sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Para aqueles que não acreditam no CHI aplicado ao MMA


KI: A Energia Básica

O Kanji Ki é formado por dois radicais: Vapor e Arroz. Arroz? Sim, arroz. Não sei exatamente o que esse radical representa nesse contexto, mas tenho duas hipóteses. Constituindo a alimentação básica na China, o arroz representa a vida. Nessa qualidade, é utilizado como radical na composição de vários kanjis relacionados a alguma idéia derivada de vida. Provavelmente foi escolhido no lugar do próprio Kanji que representa a vida porque este não é simples o suficiente para ser usado como radical, enquanto o Kanji arroz o é. Então, o significado original de Ki seria "vapor de vida". E é assim que Ki é representada artisticamente, como um fluído ou vapor carregado de energia de força vital. Minha segunda hipótese é que o caractere refira-se ao vapor que sobe do arroz cozido.
Todos os povos primitivos de grande espiritualidade e superstição possuíam a noção de uma força fluída invisível que preenche a natureza e anima os seres vivos, estando ligada diretamente à qualidade da saúde e entrando no corpo pela respiração. Em resumo, atribuíam ao ar a fonte da vida e da saúde. Cada cultura deu-lhe um nome: Qi na China, Ki no Japão, Prana/ Shakti/ Kundalini na Índia, Ti no Havaí, Mana na Oceania, Aither (éter) e Pneuma na Grécia, Aether (éter), Aura e Spiritus (espírito) em Roma. Com o passar do tempo foram criados mais nomes: Quintessência, Vril, Força Ódica, Orgone, Bioplasma, Telesma, Baraka, Magnetismo Animal, Força Vital, Fogo Cósmico, Fogo da Serpente, o Dragão da Terra, a Força. Praticamente todas as doutrinas de artes marciais, de esoterismo e de filosofia e metafísica baseadas no Taoismo apresentam esse conceito de energia espiritual, ou Ki.
Voltemos ao caractere chinês empregado no Taoismo. Qualquer que seja a interpretação do ideograma Ki, ele sempre representa algum tipo de energia de natureza espiritual. Na sua origem a energia representava o aspecto do espírito que se refere à força vital. Com o tempo, essa energia passou a representar também o aspecto do espírito que se refere ao humor e ao pensamento. Em resumo, Ki é a energia vital e psíquica.
Segundo a crença, Ki tem um papel importante em tudo o que fazemos. Para favorecer o equilíbrio orgânico e espiritual, pode ser acumulada e guiada pela mente. Os chineses levam muito a sério a Ki, que chamam de Tchi (dependendo do sistema de romanização pode ser escrito Qi, Chi ou Ch'i). Estudaram a energia Ki por centenas de anos e descobriram que há vários tipos diferentes de Ki. O "Clássico de Medicina Interna do Imperador Amarelo", de mais de 4 milênios de idade, lista 32 diferentes tipos de Ki.

Traduzindo Ki

Quando traduzindo do Japonês para o Português devemos ter em mente que uma tradução exata é difícil. A língua japonesa possui vários níveis de significado, variando do mundano ao altamente místico. Portanto o contexto no qual a palavra está sendo usada deve ser considerado quando da tentativa de comunicar sua essência. Ki é freqüentemente definido em dicionários como "espírito", "mente", "humor", ou até "ar", mas é uma das diversas palavras japonesas que não têm uma correspondente ocidental. As traduções mais corretas são aura, ar e pneuma, no seu sentido original. Ou seja, quando referir-se à energia fluída de força vital, trata-se da concepção original de AR; quando referir-se à situação em que uma sensação forte está "no ar", trata-se de AURA. A concepção grega de éter é de uma substância igual à Ki, mas que não carrega a energia da vida como a Ki. Já a pneuma é praticamente idêntica à Ki, pois representa o espírito aéreo responsável pela saúde; considero a tradução mais apropriada para Ki.
Outra forte candidata a tradução de Ki é a palavra Espírito, que inclusive é como o gênero de Ki Anime foi traduzido em inglês. É importante salientar que o sentido original da palavra latina spiritu é sopro, e acabou representando o sopro de vida, igualando seu sentido à concepção original de Ki. Mas spiritu não representava a energia do humor ou do pensamento. Mais de dois milênios depois uma gama enorme de significados é atribuída a tal palavra, inclusive o sentido que antes lhe faltava. Assim, espírito é a única palavra que representa todas as qualidades de Ki ao mesmo tempo.
O que torna perigoso usar espírito como tradução para Ki é justamente a quantidade enorme de interpretações que tal palavra latina pode sofrer. Entretanto, hoje em dia, éter refere-se a uma substância química, aura à irradiação de energia dos organismos vivos, e espírito a diversos estados de consciência. Sendo Ki a energia da vida e da mente e sendo espírito ao mesmo tempo a força vital e a consciência, energia espiritual é a melhor traduçào de Ki.
Na verdade, o grande problema dessa tradução é que os conceitos de mente, alma e espírito cada vez mais se diversificam, adquirindo sentidos e usos variados. Não sou linguista, mas creio que posso afirmar com bastante segurança as seguintes definições. Espírito, na concepção original, é o sopro de vida, a energia etérea que anima o corpo. A mente, por sua vez, é a consciência individual de cada animal, ou seja, o conjunto dos seus pensamentos, sentimentos e sensações, sendo baseada no cérebro. As características de cada mente vêm da alma, ou seja, da predisposição psicológica que é a essência de cada ser. Através da mente, a alma interage com o mundo. Os efeitos dessa interação se refletem na mente, mas certamente jamais alteram a alma.

Anexo: Definições

Eis as definições que encontrei em dicionários e achei que mais têm a ver com a Ki.
Espírito: WEBSTER - [do latino spiritus, literalmente sopro; similar ao latino spirare soprar, respirar] 1. Um princípio animador ou vital que dá vida a organismos físicos. 3. Temperamento ou disposição da mente ou prospeção especialmente quando vigorosa ou animada. | LAROUSSE CULTURAL - 6. Disposição, tendência: ter espírito generoso. 7. Aptidão: espírito de invenção. 8. Humor: ter espírito. | AMERICAN HERITAGE - 1. O princípio vital ou a força que anima os seres vivos. 9. spirits. Um humor ou estado emocional.
Aura: AURÉLIO - [Do latim aura.] 2. Filosofia. Cada um dos princípios sutis ou semimateriais que interferem nos fenômenos vitais. | WEBSTER - [do latim ar, brisa, do grego; semelhante ao grego aér, ar] 1b: uma atmosfera distintiva envolvendo uma dada fonte <O lugar tem uma aura de mistério> | LAROUSSE CULTURAL - 2. Zona luminosa em torno de um objeto. 3. Atmosfera imaterial a envolver certos seres; uma aura de santidade. Ocultismo. Espécie de halo sutil, imaterial, que envolve o corpo, visível somente por pessoas dotadas de percepção extra-sensorial. | AMERICAN HERITAGE - 1. Sopro, emanação ou radiação invisível. 2. Uma distintiva mas intangível qualidade que parece envolver uma pessoa ou coisa; atmosfera.
Éter: LAROUSSE CULTURAL - 2. No ocultismo, substância primordial e universal, agente fluídico geral capaz de se particularizar.
Pneuma: LAROUSSE CULTURAL - [Do grego pneuma, sopro.] 1. Espírito aéreo que alguns médicos antigos tinham como a causa da vida e das doenças. 2. Na filosofia estóica, princípio espiritual considerado como o quinto elemento.
Magnetismo animal: LAROUSSE CULTURAL - Espécie de força vital, comparável ao magnetismo mineral, considerado latente em todas as pessoas e especialmente desenvolvida em algumas pessoas, propiciando uma série de fenômenos paranormais ainda não explicados.

Ki Como Energia Vital

Ki é a força da vida, a energia imaterial onipresente que no seu fluxo anima todos os seres vivos e permeia o Universo, ligando todas as coisas como um todo. É a energia básica que media o físico com o espiritual, através da qual o humor e o pensamento agem sobre o mundo físico. Sendo fluída e onipresente, os antigos a consideravam o próprio ar; como tem a ver com o estado de espírito, associavam a ela também o humor. Sua qualidade determina sua cor, que só pode ser vista por pessoas sensitivas.
Enquanto um ser está vivo, possui força vital circulando-o e cercando-o; quando morre, a força vital o deixa. Se sua força vital está baixa, ou há restrição no seu fluxo, se sentirá fraco e estará mais vulnerável a doenças. Quando está alta, e fluindo livremente, dificilmente adoecerá e sentir-se-á forte, confiante, e preparado para enfrentar a vida.
Recebemos Ki pelo ar que respiramos, pela comida, luz solar, e pelo sono. É possível também aumentar nossa Ki usando exercícios de respiração e meditação. Ki é usada por artistas marciais no seu treinamento físico e desenvolvimento espiritual. É usada em exercícios de respiração meditativos chamados Prana-yama, e pelos xamãs de todas as culturas para adivinhação e ciência, manifestação e cura psíquicas. Todos os curandeiros trabalham com a energia Ki, embora cada um a chame e a entenda como quiser.
Os EFEITOS orgânicos que muitos atribuem à energia Ki são considerados até mesmo pela medicina moderna, embora a ENERGIA KI EM SI não seja levada a sério. Isso porque a concepção de Ki foi criada com base no estudo dos fenômenos vitais. Ou seja, é apenas o que se acreditou ser a "causa" desses processos. Portanto, não se deve desprezar as técnicas desenvolvidas com base na teoria que se baseia em fatos. Tanto é que os efeitos das técnicas da acupuntura e do qigong estão sendo comprovados cientificamente, embora as "causas" de tais efeitos que são alegadas pelos praticantes de tais técnicas não sejam, necessariamente, reais. No fim, o que importa não é a causa, mas a conseqüência.

Ki Como Energia Psíquica

Um atributo importante da Ki, já mencionado, é que ela responde a pensamentos e sentimentos. A força do fluxo de Ki sobre um organismo é diretamente proporcional à qualidade dos pensamentos e sentimentos do indivíduo. São nossos pensamentos e sentimentos negativos que causam interrupções no fluxo de Ki. Os locais onde pensamentos e sentimentos negativos se concentram é onde o fluxo de Ki se restringe. Nesses pontos o organismo funciona mal e podem surgir doenças. Mesmo a medicina ocidental moderna reconhece a influência da mente sobre a condição orgânica e muitos médicos ocidentais apontam 98% das doenças como conseqüência direta ou indireta do estado de espírito do doente.
Deve ser compreendido que a mente não existe apenas no cérebro; este é apenas seu centro funcional, mas o sistema nervoso estende a consciência e subconsciência a cada órgão e tecido do corpo. Ademais, a parapsicologia sabe que a mente se estende num sutil campo de energia de cerca de 60 a 90 centímetros chamado Aura. Por causa disso, não se pode analisar separadamente a mente do corpo, já que estão tão ligados. Tal como o estado da mente é influenciado pelo estado do corpo, este é influenciado pelo estado de espírito. Isso são fatos; se são conseqüências da Ki é uma questão de crença.
O maior problema são os pensamentos e sentimentos negativos alojados no subconsciente, pois não estamos cientes deles e portanto não podemos mudá-los ou eliminá-los por nós mesmos. É aí que entra a cura por Reiki, por exemplo. Sua doutrina alega que, através de suas técnicas, a Ki é guiada pela Consciência Divina, portanto sabe exatamente a onde ir e como responder a restrições no fluxo de Ki. Ao fluir numa área sem saúde, a Reiki "lava" quaisquer pensamentos e sentimentos negativos e os elimina, independente de o indivíduo conhecê-los ou não. Assim, sendo livre de consciência e influência tanto do curandeiro quanto do paciente, o método de cura Reiki vem se tornando cada vez mais popular no Ocidente.

Reiki: Ki Universal

Reiki hoje em dia refere-se a uma técnica de canalização manual de Ki para fins curativos e está se difundindo pelo mundo. Mas esta palavra aparece em alguns mangás e animes no lugar de apenas Ki por ter significado mais abrangente.
Rei significa: espíritos em geral; o aspecto espiritual do ser humano em oposição ao físico; espírito (dos mortos), fantasma, alma; qualquer coisa relativa aos falecidos; bondade, bom, excelente, eficaz; esperto; vida; um ser vivo, um ser humano; divino, carismático, sobrenatural, misterioso; a luminosidade do espírito, de um deus ou de um sábio; habilidade espiritual inconcebível, poder carismático, carisma, maravilhoso, uma maravilha; uma pessoa ou ser com poderes espirituais ou sobrenaturais, um xamã; um ser ou fera sobrenatural (mítico), uma fada, um elfo; puro; brilhante, claro; um apelido
Os místicos do método de cura Reiki afirmam que numa idéia mais profunda e completa Rei representa a Consciência Superior (Deus, ou Tao, no caso) e chamam Reiki de variações da expressão Energia de Força Vital Universal ou Cósmica.

Formas de escrever Reiki
Quatro formas de escrever Reiki: Japonês Moderno, Chinês (lendo-se Ling Qi),
Japonês Antigo (sendo os três ideogramas) e Katakaná (fonogramas).

Touki: Ki de Luta

A filosofia de diversas modalidades de artes marciais fundamentam-se no controle da Ki para aumentar a resistência e força físicas a níveis extraordinários (Kung-fu/Quanfu, Aikidô) ou apenas para manter a saúde (Tai-chi). O mesmo ocorre com os quadrinhos, animações e videogames japoneses. Neles, a Ki empregada é referida como de luta (tou-ki, geralmente traduzido como ‘espírito de luta’) e é manipulada em ataques na forma de energia mágica.
Nos casos citados, a Ki de Luta é a manifestação violenta da Ki quando o indivíduo mergulha em profunda concentração, alcançada pelos artistas marciais através de treinamento especial e pelos fictícios lutadores através de excepcional vontade de vencer o combate. Em ambos os casos, a Ki que envolve o corpo pode ser reunida nos punhos e pés durante golpes capazes de quebrar objetos extremamente sólidos.

Análise Científica

Se você não pode acreditar nisso ora por simples incredulidade ora por fé, não esqueça que virtualmente todas as práticas relacionadas a Ki são verídicas e algumas até comprovadas cientificamente. Isso porque, provavelmente, a Ki da Aura é a energia projetada pelo corpo durante seus vários processos biológicos, como os fluxos de sais e os sinais elétricos gerados pelo sistema nervoso.
Isso significa que há uma grande probabilidade de os princípios da Ki serem meros processos físicos. Se isso for comprovado, os princípios da Ki deixarão de pertencer ao campo metafísico para fazer parte do campo científico. Obviamente, o mesmo não pode ser dito do CONCEITO ORIGINAL de Ki, que certamente é totalmente metafísico. Para poder entender esta análise, é necessário entender que o CONCEITO de Ki e os PRINCÍPIOS de Ki são duas coisas distintas. O conceito é uma causa, que, para muitos, pode parecer deveras fantasiosa. Já os princípios são a conseqüência, ou seja, fenômenos reais que ainda não foram explicados cientificamente, ao menos não que eu saiba. Se forem explicados, um NOVO CONCEITO surgirá, concedendo aos princípios da Ki uma CAUSA CIENTÍFICA que substituirá a CAUSA METAFÍSICA original.
Mas voltemos à análise da Aura e suas possíveis características e causas físicas. O sistema nervoso funciona à base de impulsos elétricos através de íons, partículas com carga elétrica que compõem os sais. Correntes elétricas, que são um fluxo de campos elétricos, produzem campos magnéticos, e esse conjunto caracteriza a emanação de energia eletromagnética. Segundo esse raciocínio, a Aura nada mais seria que todo o campo eletromagnético formado pelos organismos animais. Quanto à idéia de a energia da Aura vir pela respiração e pela alimentação, sabemos que os principais combustíveis das células nervosas são o oxigênio e a glicose. Considerando que o sistema nervoso capta praticamente todas as informações referentes à condição do organismo (sua saúde), mesmo que não sejamos completamente cientes delas, o campo projetado por seus sinais, se detectado, poderia ser usado para identificar problemas de saúde, talvez até da saúde mental. Na verdade pouco se sabe a respeito, mas é possível que no futuro se venha a confirmar tudo isso.
Se a Aura funciona tal como me parece, talvez campos energéticos externos que venham a entrar em contato com uma Aura possam influenciá-la, mesmo que sutilmente, invertendo o processo normal de forma a estimular o sistema nervoso - para bem ou para mal. Como o encéfalo (cérebro, cerebelo, bulbo etc.) está especializado em reconhecer estímulos eletromagnéticos, um outro campo talvez possa estimulá-lo também. Podemos ir até mais longe: uma Aura muito forte poderia talvez emitir pensamentos, sentimentos e sensações que poderiam ser captados por uma pessoa com alta sensibilidade a esses sinais; tal fenômeno caracterizaria a tão discutida telepatia.
Se tudo isso for verdade e uma Aura com energia excepcional por algum desequilíbrio mental entrasse em atividade intensa, poderia causar fenômenos ditos sobrenaturais ou paranormais, como por exemplo a telepatia, a combustão expontânea e façanhas físicas (de faquires e artistas marciais) que vez ou outra vemos na TV hoje em dia. Além disso, eu soube que a técnica chinesa de ChiKung/QiGong (Prática de Ki) empregada pelo renomado Yan Xin já teve sua influência sobre a matéria estudada em laboratório várias vezes, comprovando que funciona, seja uma energia básica esotérica, seja uma energia física. E não podemos esquecer que os chakras (pontos de convergência de Ki) coincidem com os plexos (emaranhados de nervos) e órgãos vitais, o que apenas reforça a teoria de tratar-se da energia do sistema nervoso.

Retirado do site: http://estevaomonteiro.com

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

GRANDES MESTRES: Wang Xiang Zhai

Durante séculos, a arte marcial chinesa permaneceu a mesma, mas no meio o século 19º isso mudou sob o impulso do grande mestre Guo Yun Shen, chamado de “conquistador do meio mundo”, era o maior perito do seu tempo em Xingyiquan (boxe da unidade corpo e mente). Enfatizou o Zhan Zhuang e simplificou os movimentos, então transmitiu a sua arte a Wang Xiang Zhai, seu melhor discípulo.

Wang Xiangzhai (1886-1963), também conhecido como Nibao, Zhenghe ou Yuseng (Monge do Universo) era um dos melhores estudantes de Guo Yunshen famoso mestre de Xingyiquan (hsing-i ch’uan). Provavelmente apenas Wang Xiangzhai aprendeu todos os segredos dos exercícios do Zhan Zhuang de Guo Yunshen, exercícios os quais, vieram a se tornar posteriormente os elementos mais característicos do Yiquan. Em 1907 Wang deixou seu lar, e procurando por trabalho, finalmente se juntou ao exército. Inicialmente ele era apenas um ajudante na cozinha. Mas quando um dos oficiais descobriu o quanto ele era habilidoso em combate, foi designado como instrutor de arte marcial. Em 1913 ele se tornou famoso por derrotar Li Ruidong, fundador do estilo Li de Taijiquan, que era o instrutor da guarda presidencial. No mesmo ano Wang tornou-se comandante do Departamento de Combate Desarmado de Forças de Terra. Ele designará outros instrutores de mesma fama mestres do circulo de xingyi/bagua como: Sun Lutang (mestre de Xingyiquan e Baguazhang, fundador do estilo do Sun de taijiquan), Shang Yunxiang (fundador do estilo Shang de Xingyiquan), Liu Wenhua (filho de Liu Qilan que junto de Guo Yunshen foi aluno de Li Luoneng). Em 1915 Wang derrotou Zhou Ziyan, mestre do estilo Louva-Deus que então se tornou aluno de Wang. Em 1918, por causa de mudanças políticas, o Departamento de Combate Desarmado do Exército de Terra suspendeu seu funcionamento. Wang foi em seguida para o Sul procurar por grandes mestres de artes marciais. Primeiro ele foi ao Templo Shaolin onde estudou Xinyiba (um sistema conexo ao Xingyiquan) do monge Henglin (também conhecido como Changlin ou Xianglin – posteriormente Doshin So, fundador do Shorinji Kempo, estudou com o mesmo monge). Na província de Hubei Wang estudou com o excêntrico mestre Jie Tiefu (Che Dahuza). Na província de Fujian ele foi novamente designado como instrutor de arte marcial no exército da província. Desta vez ele conheceu os mestres do estilo Garça Branca do Sul – Fang Qiazhuang e Jin Shaofeng. Voltando para o norte ele conheceu o famoso mestre de Xinyi – Huang Muqiao, de quem ele aprendeu a “dança da saúde”. Em Xi’an ele encontrou um mestre famoso por seus chutes rápidos Liu Peixian. Ele estudou também Baguazhang com Liu Fengchun e conheceu os mestres de taijiquan Yang Shaohou e Yang Chengfu. Estes são apenas alguns dos mestres com quem Wang estudou ou trocou experiências.

Por volta de 1925, enquanto ensinava xingyiquan, Wang notou que seus estudantes estavam dando muita atenção a forma exterior, a um determinado conjunto de técnicas, e muito pouco ao aspecto mental. Então ele começou a empregar mais amplamente os exercícios do zhan zhuang e outros métodos de treinamento similares aqueles utilizados atualmente no yiquan/dachengquan, e colocando menos ênfase na prática de formas. Ele mudou o nome do sistema para Yiquan, descartando o elemento Xing (forma). A história do novo sistema começou deste ponto. O primeiro estudante de yiquan em Beijing foi Qi Zhidu. Em Tianjin juntaram-se: Zhao Enqing (Zhao Daoxin – o vencedor do torneio de luta livre de Todos Esportes de Competição da China; também famoso por derrotar o pugilista Andersen da Noruega, tendo incômodos chinelos nos seus pés; fundador da versão de Xinhuizhang, grandemente baseado no baguazhang), Gu Xiaochi, Ma Qichang, Deng Zhisong, Miao Chunyu, Zhang Zonghui, Zhang Entong (quem, em 1950s derrotou o peso pesado chinês de luta livre o campeão Zhang Kuiyuan que depois disto começou a estudar yiquan), Qiu Zhihe, Zhao Fengyao, Zhao Zuoyao.

Em 1928, junto com seus estudantes Zhao Enqing e o mestre de Xingyiquan de Tianjin, – Zhang Zhankui, Wang foi para Hangzhou onde foi o árbitro do torneio de luta livre do torneio de Todos Esportes de Competição da China e também demonstrou métodos de treinamento de yiquan. Seu estudante Zhao Enqing (depois conhecido como Zhao Daoxin) ganhou o torneio. Então Wang foi convidado para Shanghai onde fundou a Sociedade de Yiquan. Depois da luta de Wang com o húngaro Inge campeão mundial de boxe peso leve de 1950, (inclusão posterior desta luta foi publicada em Londres no “Times”) o yiquan se tornou bem conhecido. Aqueles que se tornaram estudantes de Wang neste período foram: You Pengxi (o fundador de versão de kong jin; que em idade avançada emigrou para os E.U.A. ensinando na Califórnia (morreu em 1983), Gao Zhendong, Zhu Guolu, Zhu Guozhen, Bu Enfu (o campeão chinês de lutas de boxe e shuai-jiao), Zhang Changxin (o vencedor do torneio de boxe em Shanghai), Zhang Changyi, os irmãos Han Xingqiao e Han Xingyuan, Wang Shuhe, Ma Jianzhao, Ning Dachun.

Han Xingqiao, Zhao Daoxin, Zhang Changxin e Gao Zhendong ficaram famosos em Shanghai como “os quatro guerreiros de diamante”. Wang escreveu o primeiro tratado de yiquan: “O Caminho Correto do Yiquan” Naquele momento o Yiquan de Wang Xiangzhai já era bastante diferente do que foi ensinado por outros mestres de Xingyiquan. Wang em seu trabalho critica alguns conceitos populares nos círculos de Xingyiquan, mas muitas de suas idéias ainda eram baseadas em conceitos tradicionais aos quais ele se rendeu anos depois. Em algumas fontes de Xingyiquan o termo “escola natural” de Xingyiquan é usado com referencia aos ensinamentos de Wang do período de Shanghai.

Um dos banqueiros de Shangai propôs que Wang organiza-se um time que iria por uma tournée mundial para demonstrar o poder da arte marcial chinesa. Mas em seguida perturbanções políticas ocasionaram alguns problemas e o banqueiro abandonou esta idéia. Durante a permanência de Wang em Shanghai ele se encontrou com Wu Yihui – um mestre de Liuhebafa a quem ele descreveu como um dos três maiores mestres que ele conheceu durante suas viagens por toda a China (os dois outros eram Jie Tiefu e Fang Qiazhuang, já mencionados acima).

Em 1935 Wang Xiangzhai, juntamente com seus estudantes Bu Enfu, Zhang Entong, Zhang Changxin e Han Xingqiao mudaram-se para a casa de Wang na vila Shen. Lá eles se concentraram no treinamento e estudo da teoria da arte marcial. A maioria dos métodos de treinamento usados atualmente no Yiquan foram desenvolvidos e aperfeiçoados naquela época. Eles tinham provado que com estes métodos os estudantes estavam fazendo progresso muito mais rapidamente.

Em 1937 Wang se mudou para Beijing. Ele ensinou yiquan e aprimorou ainda mais a teoria do sistema. Hong Lianshun, mestre de Xingyiquan e Tantui era muito famoso em Beijing naquele época. Quando Hong ouviu falar da habilidade incrível de Wang ele foi desafia-lo. Depois que Hong foi derrotado e se tornou aluno de Wang seus alunos passaram conjuntamente para Wang. Entre eles estava Yao Zongxun (1917-1985), que se tornou posteriormente o sucessor de Wang. Os outros estudantes de Wang deste período de Beijing eram: Dou Shiming (quem uma vez com um soco derrotou Gao Yanwang, o guarda-costas do general Fu Shuangying), Dou Shicheng, Li Yongzong, Yang Demao, Zhang Zhong, Zhang Fu, Wang Binkui, Yang Shaoqing, Li Wentao, Li Jianyu, Wang Shichuan, Jiao Jingang, Ao Shuopeng, Ao Shuohong, Tong Guocao.

Em 1939 Wang publicou no jornal “Shibao” um texto no qual ele convidou todos os mestres de artes marciais para trocar experiências e idéias. Os convidados geralmente queriam comparar suas habilidades com Wang. Wang tinha escolhido quatro estudantes que lutariam em seu lugar: Han Xingqiao, Hong Lianshun, Yao Zongxun e Zhou Ziyan. Somente depois de derrotar um deles o convidado lutaria com Wang, mas nenhum obteve sucesso.

Em 1940 em Tókio aconteceu um grande festival de artes marciais no qual também participou um grupo chinês. Alguns mestres chineses colaborando com os japoneses foram até lá. O chefe do grupo tentou persuadir Wang Xiangzhai a quem ele considerava o maior dos mestres, a participar. Wang recusou. Mas como durante o festival, os chineses falaram muito sobre Wang Xiangzhai, logo após muitos japoneses começaram a ir para Beijing para visitar Wang. Muitos deles desafiaram Wang, e todos foram derrotados. Muitos deles queriam se tornar alunos de Wang, mas apenas um foi aceito – ele era Kenichi Sawai que depois criou a sua versão do yiquan conhecido no Japão como taiki-ken (Sawai era um dos mais famosos mestres de artes marciais no Japão, ele era consultor de Masutatsu Oyama, fundador do caratê kyokushin). Embora Sawai fosse estudante de Wang, geralmente ele aprendia de Yao Zongxun.

Em 1941 Wang apresentou seus seis melhores estudantes com nomes honorários, expressando deste modo sua alta opinião sobre suas habilidades. Zhao Enqing recebeu nome Daoxin, Han Xingqiao – Daokuan, Bu Enfu – Daokui, Zhang Entong – Daode, Zhao Fengyao – Daohong. Yao Zongxun, entretanto o mais jovem e aprendendo yiquan por tempo mais curto do que outros, mostrou incríveis habilidades de aprendizado e recebeu o nome Jixiang, significando que ele seria o sucessor de Wang Xiangzhai (ji – continuar, xiang – parte do nome de Wang Xiangzhai). Wang também presenteou Yao com um leque com caligrafia que é a evidência clara que Yao foi designado como o principal sucessor de Wang.

Yao Zongxun provou sua habilidade em muitas lutas, freqüentemente lutando no lugar de Wang Xiangzhai quando alguém o desafiava. Em 1940s ele também lutou muitas vezes com gangues de rua, numerosas naquela época em Beijing. Deste modo ele adquiriu muita experiência em combate real.

O Yiquan já era um sistema completamente separado do xingyiquan. Os estudantes de Wang sugeriram um novo nome: dachengquan (arte marcial perfeita) Wang se opôs, porque o nome sugeria que era um sistema perfeito, e ele mantinha que não havia nenhum limite para aperfeiçoar a arte marcial. Mas como sua resistência não fora suficientemente forte, o nome foi usado durante alguns anos e por alguns é usada até agora. Mas a maioria dos estudantes de Wang depois de certo tempo começaram a usar o nome de yiquan novamente.

Wang escreveu o segundo trabalho sobre a teoria de seu sistema: “O Eixo Central do Caminho do Punho” que também é conhecido como “Teoria do Dachengquan.”Ele era até certo ponto baseado no primeiro livro” ” Caminho Correto do Yiquan”. Mas Wang se rendeu completamente a muitas idéias tradicionais. Os métodos de treinamento eram baseados em diferentes conceitos. Métodos novos possibilitaram alcançar os mesmos ou melhores resultados mais facilmente e num tempo mais curto.

Wang naquela época ensinou pessoalmente apenas seus antigos estudantes, direcionando todos os recém-chegados para Yao Zongxun. Na metade de 1940s Wang começou colocar mais atenção ao aspecto da saúde dos exercícios de Yiquan. Ele ensinou pessoalmente o grupo de “saúde”. Alguns estudantes deste grupo eram: Chen Haiting, Qin Zhongsan, Yu Yongnian, Bu Yukun, Mi Jingke, Sun Wenqing, Zhang Yuheng, Qi Zhenglin e a filha de Wang Xiangzhai – Wang Yufang. Em 1947 este grupo que praticou no Templo dos Antepassados (o qual atualmente ë o Palácio de Cultura dos Trabalhadores) teve aproximadamente 100 membros. Muitos deles foram capazes de curar algumas doenças que não poderiam ser curadas de outro modo. A eficiência terapêutica e a falta de efeitos colaterais destes exercícios foram posteriormente provadas cientificamente.

Depois de 1949 a situação não era favorável para praticantes de yiquan como uma arte de combate. Embora em 1950 Wang fosse designado como vice-presidente da divisão de wushu do Comitê de Cultura Física de Toda a China, ele logo o deixou. Nos anos seguintes ele ensinou quase completamente a versão para a “saúde”. O grupo de “saúde” mudou-se para o Parque do Sol do Yatsen e poderia praticar livremente.



pacientes treinando zhan zhuang

Yu Yongnian apresentou às autoridades um relatório sobre os valores terapêuticos dos exercícios zhan zhuang, o qual resultou na introdução deste método em muitos hospitais por toda a China.

Também foi pedido a Wang Xiangzhai para ensinar em hospitais. Em 1958 ele foi apontado para o Instituto de Pesquisa de Medicina Chinesa Beijing. Em 1961 ele se transferiu o para Hospital de Medicina Chinesa em Baoding, na província de Hebei. Wang direcionou o grupo de “saúde” para Yao Zongxun que também ensinou a versão “combate” para alguns estudantes selecionados. Em 1962 Wang participou da conferência de qigong onde ele executou alguns exercícios que foram apreciados com grande interesse.

Wang Xiangzhai faleceu no dia 12º de julho de 1963 em Tianjin.

Enquanto que a versão “saúde” poderia ser praticada livremente, o desenvolvimento do sistema de “combate” enfrentou muitos obstáculos. Ele foi praticado apenas em círculos muito pequenos. O período da Revolução Cultural (1966-1976) foi particularmente difícil. Yao Zongxun com foi enviado com sua família para trabalhar no interior. Até mesmo neste período extremamente desfavorável ele continuou praticando e ensinando seus filhos. Ao final de 1970 Yao voltou para Beijing em uma atmosfera mais favorável para começaram a difundir o yiquan amplamente. Ele também trabalhou com cientistas na adaptação dos métodos de treinamento do yiquan para várias disciplinas do esporte. Em 1984 ele criou Associação de Pesquisa de Yiquan de Beijing, e se tornou seu primeiro o presidente.

Atualmente o yiquan pode se desenvolver livremente na China e esta gradualmente se tornando uma das mais populares artes marciais chinesas.

O Yiquan é ensinado como uma arte de combate real, mas competições de tui shou (interação entre parceiros) e san shou (luta livre) também estão sendo organizadas.

Separadamente do sistema completo do Yiquan, a versão de “saúde” também é muito popular. Alguns dos mais famosos experts desta versão são: Yu Yongnian, Wang Yufang (a filha de Wang Xiangzhai) e Sun Changyou (aluno de Yao Zongxun).
 
Fonte: Arte Marcial Budista